segunda-feira, 8 de junho de 2009

Desencanto

Votei ontem. Desencantado.
Desencantado porque, mais do que decepção pela campanha vazia, mais do que apreensão pela reveladora abstenção, mais do que revolta pelo oportunismo reinante, senti angústia por ser este o acto maior de um sistema que se quer único, eterno e incontestável.
Que no seu fundamentalismo anacrónico despreza quem imagina qualquer outra forma de organização.
Que ostraciza quem ousa imaginar outro caminho.
Que na sua intolerância escondida marginaliza quem não subscreve incondicionalmente o pensamento dominante.
Que sonha impor à escala planetária a sua suposta superioridade moral.
E é pobre, um sistema assim.
Que se esgota em actos pontuais.
Que se fecha sobre si mesmo num corporativismo a lembrar outros tempos.
Que assenta numa elite dirigente, acéfala e ausente.
Uma elite cujo principal objectivo é perpetuar-se, eternizando o seu poder, legitimando os seus privilégios.
Uma elite constituída por partidos cujas diferenças se limitam ao discurso formal e aos símbolos identificativos, que se protegem mutuamente, certos de que a alternância fará o seu papel.
Que se julga imbuída de uma missão sagrada, acima de tudo e todos.
Que admite apenas que a intervenção popular, bárbara e desinformada, por definição, seja balizada e delimitada no tempo.
Daí o esforço em fazer das eleições uma festa apoteótica, um orgasmo.
Que sacie o apetite de intervenção dos cidadãos. Que faça crer que uma cruz num quadrado tem um poder ilimitado e definitivo.
Mas não tem. É um acto vazio.
Ritual de legitimação de uma democracia parlamentar esgotada, anacrónica e pobre.
Porque anacrónico é um sistema que se eterniza no tempo.
Pobre é um sistema que se limita.
Desencantado votei ontem…

Pedro